Você já parou para pensar por que existem tantos reality shows, ou melhor, como tem tanta gente para assistir a todos esses realitys? E se pensarmos em Big Brother Brasil então, o reality mais assistido de todos mesmo em sua 22º edição? Isso deve ter alguma explicação, não é? Claro que tem! A psicologia pode ajudar a explicar por que amamos o Big Brother Brasil.
Gostamos de “cuidar da vida dos outros”?
Muitos dizem que assistir reality show é “cuidar da vida do outro”, mas o que isso realmente significa? Se interessar pela vida de outras pessoas faz parte da natureza humana. Gostamos de fofoca, de torcer para a promoção de um amigo, e ficamos chateados quando um casal de conhecidos se separa. Como isso é tão diferente de assistir BBB? Na verdade, não é!
O primeiro ponto para nos aventurarmos em um reality show é a capacidade de desenvolvermos empatia. Empatia é a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. Sentimos pena, simpatia, raiva, dor e alegria junto com as pessoas da casa, pois conseguimos nos imaginar naquela situação e nos transportar para lá, sentindo o que aquelas pessoas estão sentindo.
O segundo ponto é a identificação. No caso do Big Brother, sempre pensamos no que faríamos nessa ou naquela situação, de quem seríamos amigos, o que faríamos com o dinheiro do prêmio etc. Isso acontece porque conseguimos nos imaginar na mesma situação. Assim, agimos e reagimos de acordo com ela. Porém, todos esses sentimentos geram prazer. É quase como se vivêssemos aquela situação, e em uma grande vantagem: com a segurança do nosso lar, sem nos expormos, sem medo de sermos julgados etc. Eu já fiz um texto sobre o comportamento humano diante o isolamento no reality, depois dê uma conferida.
Viver essas emoções sem ter que lidar com as consequências negativas é um fenômeno chamado catarse. A catarse é um processo de liberação psíquica que gera prazer. Um exemplo é quando a pessoa por que você está torcendo ganha; você se sente feliz como se quem tivesse ganhado fosse você! Ou quando aquela pessoa que você odeia é eliminada e você tem a sensação de vingança, justiça e dever cumprido. Essas emoções nos fazem bem, e por isso gostamos de vivenciá-las.
O terceiro ponto é a verossimilhança, que é quando você sente algo como real, te parece real. A verossimilhança, junto com a identificação, são pontos fundamentais para criação de personagens fictícios, pois o espectador só vai se importar com o personagem se esse personagem gerar identificação e a situação vivida for suficientemente convincente como uma situação real.
Como exemplo: em uma novela, os personagens sempre têm características que você consegue identificar em si mesmo ou em alguém conhecido. Além disso, as situações por qual esses personagems passam, como traição, pobreza, ganância, maldade, injustiça etc, são situações que você pode se imaginar passando ou até que já passou.
O Big Brother Brasil não precisa criar a verossimilhança pois ele é exatamente a vida cotidiana de um grupo de pessoas. Mesmo que a situação seja diferenciada, é possível identificar características do dia a dia como lavar louça, cozinhar, discutir sobre quem vai lavar o banheiro etc. Todas as pessoas já passaram ou podem se imaginar passando por essa situação. Sendo assim, o Big Brother Brasil gera uma verossimilhança automática, além da identificação que se torna muito natural uma vez que os personagens são pessoas reais e não inventadas. Elas não precisam se parecer com você ou seu vizinho; elas são vizinhos, colegas, pessoas que realmente vivem no mundo real. Isso torna muito fácil a identificação e a verossimilhança, o que por sua vez facilita a catarse através deles.
Por que o Big Brother Brasil é tão assistido?
Falamos de características que demonstram por que reality shows são tão assistidos. Porém, ainda temos que entender as razões pelas quais o Big Brother Brasil é mais assistido do que qualquer outro reality, e ainda é mais assistido do que o mesmo formato em outros países.
Embora não tenhamos uma resposta tão direta, podemos especular que, em primeiro lugar, o brasileiro está acostumado com um formato, a novela, que está bem mais próximo da vida cotidiana do que outros formatos como filmes e séries. Isso se deve à periodicidade diária e ao tempo de exibição, permitindo que a novela se estenda em cenas do dia a dia como as refeições e as relações. Já os filmes e séries costumam ter um recorte sobre o assunto específico, uma janela mais limitada da vida dos personagens. Se a série se passa em um hospital, será muito mais voltado para o dia a dia do médico do que da pessoa do personagem em sua casa, sua família etc. Talvez um médico se identifique muito com esse personagem, mas quem não vivencia o cotidiano de um hospital terá mais dificuldades de se identificar com esses personagens ou de compreender a verossimilhança.
Vou dar um exemplo bem interessante e real sobre o filme brasileiro Cidade de Deus, que foi reconhecido no mundo inteiro pela sua qualidade técnica e artística. Porém, uma das críticas internacionais feitas ao filme foi que a violência era exagerada. Porém, quem vive no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, sabe que não há exagero nenhum. Para pessoas de outros países, onde esse tipo de violência urbana não é tão grande, a violência perfeitamente real representada do filme parece amplificada. Ou seja, para pessoas que vivem em países com a violência amena, a violência cotidiana das favelas no Rio de Janeiro não gera verossimilhança, já que não faz parte da vida deles.
Voltando ao hábito de consumo do brasileiro sobre entretenimento, nós percebemos também que de um modo geral o brasileiro é mais voltado às suas questões cotidianas do dia a dia do que em muitos outros países, o que explica o sucesso das novelas. É uma questão cultural que tem relação com muitas coisas como, inclusive, a relação de sucesso e trabalho. Nós, brasileiros, de um modo geral, trabalhamos para ter dinheiro e nos realizamos na nossa vida social (relacionamento, família, amigos etc). Em outros países, a pressão para subir na carreira se torna mais forte do que a social. Isso se reflete claramente em filmes americanos, em que é comum o filho encontrar sua família apenas uma vez por ano no natal. Podemos falar mais sobre isso em um outro texto se você pedir nos comentários.
Sendo assim, o brasileiro foca sua atenção na vida social, sendo mais fácil encontrar nela identificação. Além disso, a própria cultura brasileira é de valorização da família, das relações entre pais e filhos, e a nossa casa não é só onde a gente mora, mas é onde recebemos pessoas importantes para nós. Nossa casa representa o nosso cuidado, a nossa família, o nosso carinho pelos amigos e a nossa atenção aos convidados.
Talvez você não saiba, mas na maior parte dos países europeus, e até nos Estados Unidos, quando alguém vem visitar a sua casa, essa pessoa é muito íntima, muito próxima. Normalmente, amigos de trabalho ou até familiares menos próximos não vão até a sua casa para te encontrar. Esses encontros acontecem em um bar ou restaurante fora de casa.
Já no Brasil, é comum chamarmos as pessoas, até que até pouco conhecidas, para nossa casa, para um churrasco, almoço, jantar ou até mesmo para fazer horinha esperando a chuva passar. Por isso, a nossa casa é o nosso cartão de visita e temos orgulho dela, mostramos a casa para os amigos e ficamos lisonjeados quando a decoração é elogiada. Diante disso, dá para entender a identificação que criamos com a casa do BBB. Gostaria de ressaltar que o Big Brother é um programa de sucesso internacional, a casa é um lugar com que todos se identificam, mas estou destacando as razão pela qual o Brasil é o único país onde o Big Brother chega à 22ª edição mantendo, e às vezes até ganhando, audiência a cada ano.
O BBB é sobre pessoas convivendo intensamente em uma casa, com as dificuldades dessa casa, com saudade da família e amigos, vivendo momentos de tensão, mas também festa e descontração. Tudo isso com o objetivo de ganhar 1,5 milhões de reais. Essas são situações com que qualquer um consegue se identificar: “o que eu faria nessa situação?”, “como eu gastaria tanto dinheiro”, “eu confiaria ou não nessa pessoa etc”.
Então, respondendo à pergunta feita no título desse artigo: por que amamos Big Brother Brasil? Podemos responder que amamos BBB porque ele representa quem nós somos, a nossa casa, os nossos amigos, as pessoas de que não gostamos e aquelas por quem torcemos. O BBB se torna um espelho de nossa família, amigos, cultura e atitudes. Amamos Big Brother Brasil porque amamos quem somos.
Você gostou desse artigo? Eu já postei uma matéria sobre como a psicologia explica o comportamento da Karol Conká no Big Brother Brasil 21. Você também deve gostar. Semana que vem tem mais BBB aqui no blog do Baroni Educar.
Por Luisa Baroni