Ano novo, e o começo de mais um Big Brother Brasil, na sua 22º edição, gera muitas especulações sobre como será a dinâmica na casa e o comportamento de cada participante. Diante desses questionamentos, podemos nos perguntar: o que a psicologia pode dizer sobre a experiência do Big Brother?
Pessoas são diferentes e únicas. Por isso, é impossível generalizar experiências individuais, mas podemos compreender algumas coisas que afetam o comportamento e as emoções no reality. E, sim, em uma situação como a vivida no BBB, existem muitos fatores que afetam e alteram as emoções e reações das pessoas. Alguma vez você já observou um participante e se perguntou “essa pessoa é assim mesmo na vida real”? A resposta é não.
Mas por que essa mudança no comportamento acontece? Em primeiro lugar, temos que falar do isolamento social que acontece na casa. Embora esteja com mais 19 pessoas, ainda assim há a sensação de solidão, já que o participante não está com pessoas que conheça, muito menos em uma condição de acolhimento e segurança, já que é um jogo competitivo.
Imagine a seguinte situação: você está perdido em uma cidade que visita pela primeira vez. Tem muitas pessoas e carros nas ruas, mas é noite e está escuro. Você não sabe se é seguro parar o carro e mostrar que está perdido. Imagine como você se sentiria nessa situação. Preocupado, inseguro e ansioso, provavelmente. De repente, você vê um amigo seu, um rosto familiar e que te reconhece também. Certamente, a sensação será de conforto e provavelmente até de tranquilidade. Nada mudou, a cidade ainda é nova, continua de noite e você está perdido, mas ver alguém que você reconhece irá mudar sua forma de perceber a situação.
No BBB, a relação emocional é bem parecida. O participante está em um lugar diferente e desconhecido, não sabe que rumo tomar e não reconhece ninguém. Ele não sabe em quem pode confiar, sente insegurança, preocupação, desconforto e ansiedade. Essas emoções geram percepções e ações específicas no seu corpo e mente. Você pode compreender melhor esse conceito em nosso artigo sobre psicologia social.
É fundamental lembrar que todas essas reações e sensações são uma forma do nosso corpo nos proteger. Diante de uma ameaça, ou possível ameaça, criamos mecanismos para evitar nos ferirmos. Essa ferida pode ser física, social ou emocional. Vamos para mais um exemplo: um animal que está encurralado por um predador terá um destes três comportamentos: tentará se esconder ou fingir de morto, tentará acatar e mostrar que é mais forte ou tentará desesperadamente fugir.
Trazendo essa reação instintiva para o BBB, identificamos que aqueles que têm a tendência à não reação (se esconder) é o famoso “planta”, ou a pessoa que evita conflitos, não se envolve muito em nada e tenta passar despercebido. O segundo tipo, o que ataca, é o que tenta controlar a situação, se coloca como líder, tenta formar alianças e pode acabar sendo muito manipulador. O terceiro tipo chora, sente falta de casa, pensa em desistir, sofre por tudo e se magoa facilmente. É um desejo de sair de lá, de fugir.
Sendo assim, podemos compreender que o participante que se mostra manipulador no programa pode não ser assim em uma situação normal, mas esse comportamento aparece apenas quando está sob ameaça, acuado.
As reações de cada um diante dessa situação são diferentes, pois as pessoas têm personalidades diferentes. Inclusive, você pode descobrir aqui qual o seu perfil comportamental.
Além do instinto de defesa ligado, a experiência do BBB causa outro tipo de reação emocional: a da falta de feedback. A verdade é que regulamos muito do nosso comportamento pela reação que os outros têm em relação a ele. Como seres sociais aprendemos a viver em sociedade e seguimos as regras impostas por ela porque, se não as seguirmos, sofreremos punição. Essa punição não é só da lei como ser preso ou multado, mas também social. É sermos rejeitados pelos outros ou, em outras palavras, ficarmos “fora” da sociedade. Como seres sociais, não suportamos esse tipo de isolamento. Outros animais sociais como os lobos e leões morrem quando se perdem ou são expulsos do bando. Eles simplesmente desistem de comer e até beber água, pois não faz sentido viver sem o bando.
Tudo isso foi dito para mostrar que o nosso senso de certo e errado é formado a partir dos outros, desde o que nossos pais nos ensinam até a convivência com nossos colegas de trabalho. No BBB, as pessoas vivem situações únicas que nunca viveram antes, então não sabem se é certo ou errado, pois não há parâmetros sociais para isso. Somada à essa situação, os participantes do programa não sabem como suas ações estão repercutindo para o público que os vê na TV, logo não há regulação do comportamento lá dentro. Eu falei melhor sobre isso na análise do comportamento da Karol Conka no ano passado.
Mais um exemplinho para ilustrar: um adolescente que pratica bullying na escola pode até saber conscientemente que bullying é errado. Porém, ao praticá-lo, outros alunos acham divertido e, por temerem a possibilidade de virarem o próximo alvo, até bajulam o valentão. Ou seja, esse adolescente tem aprovação social, e por isso seu comportamento vai se repetir até que sofra alguma consequência significativa ou pare de “fazer sucesso”.
Por último e não menos importante, as provas e paredões elevam o nível de estresse físico e mental e ficam sempre lembrando aos participantes que aquilo é uma disputa, que todos estão jogando, que é para ficar atento e não relaxar, não confiar. Ou seja, se manter na defensiva onde o instinto de defesa vai sempre falar mais alto que a razão.
Espero que vocês tenham gostado da matéria e continuem acessando o blog. Toda semana temos conteúdo novo e uma vez por mês usamos a psicologia para explicar alguns aspectos do Big Brother. Bom reality para você!
Por Luisa Baroni