Muitos pacientes têm dificuldade em se abrir para o terapeuta, seja por medo, seja por falta de confiança. O vínculo paciente terapeuta é muito importante e, muitas vezes, as pequenas mentiras e omissões podem dificultar a compreensão do paciente como um todo, impedindo a identificação de seu estado psíquico.
Eu mesma tive uma paciente que mentiu para mim durante quase um ano sobre a sexualidade de seu filho. Por ser fiel fervorosa de uma corrente protestante bem conservadora, a paciente não admitia para si mesma que o filho não era heterossexual apesar do mesmo já viver há anos com outro homem, como fui descobrir mais tarde.
Porém desde o início a comunicação dela sobre esse filho me instigou a investigação. Ao falar das outras pessoas e até da sua filha, a paciente descrevia com detalhes a personalidade, os defeitos e a relação entre eles. No entanto, ao falar do filho ela apenas dizia que eram muito amigos e se calava. O que me intrigou, então, não era o que ela dizia sobre o filho, mas esse calar que não condizia com o comportamento dela ao falar de outras pessoas.
Sempre que tocava no assunto “filho” ela falava pouco e se ajeitava da cadeira, mostrando um claro desconforto. Ali tinha algo que ela não queria que eu descobrisse. Talvez isso se devesse ao fato de que, por se identificar como uma ótima mãe (algo que ela sempre reforçava e suas palavras), ela podia acreditar que a sexualidade do filho apontasse para uma falha na sua criação. Como se isso revelasse o lado “feio” dela mesmo. Isso pouco tinha relação direta com o filho, mas a vergonha era dela própria. Algo que ela se esforçava tanto para esconder que sofria em ter que simplesmente falar em voz alta.
Ler nesse silêncio a fragilidade emocional que ela vivia foi muito importante para chegarmos ao ponto central de toda dor que essa mulher vivia. Dessa forma então pude ajudá-la como eu jamais poderia se não identificasse esse silêncio como um ponto de análise tão ou mais importante do que aquilo que é dito.
Estudar linguagem corporal e facial me ajudou muito nessa análise do silêncio. Esse é um dos motivos pelo qual recomendo que todos os terapeutas tenham uma noção ao mínimo básica de linguagem não verbal. Mais do que falar sobre a importância de ler o paciente como um todo e não só suas palavras, o texto de hoje vem com uma dica: o comportamento do seu paciente sempre será a comunicação mais genuína dele com você, então aprenda a “falar essa língua”, vai valer a pena.