Quem foi Melanie Klein?
Melanie Klein (1882-1960) é um dos principais nomes da psicanálise e um das poucas mulheres que se destacaram nesse meio.
Klein se apaixonou pela psicanálise ao conhecer a obra de Freud (1916) e desde o começo se dedicou a compreender a psique infantil com o trabalho “A técnica da análise de crianças pequenas“. Logo depois, entrou em um embate teórico com Anna Freud, discordando de suas ideias. Esse embate gerou duas corrente neo freudianas, a de Anna Freud e a kleiniana.
A corrente de Klein defendia a brincadeira e lúdico como métodos para a análise infantil, enquanto Anna Freud era contra trabalhar o simbólico, pois esse estaria ligado ao reprimido. Klein desenvolve todo um método terapêutico infantil baseado no brincar, pois o método freudiano, livre associação de ideias, era pouco ou nada eficiente em crianças, dependendo da idade.
Teoria Kleiniana
A teoria psicanalítica de Melanie Klein parte de três pilares fundamentais: identificação do mundo interno e externo, medo de aniquilamento e ansiedade depressiva infantil.
O primeiro fundamento estipula que existe o mundo externo, que fornece sensações e atos para o bebê e também o mundo interno, criado pela própria criança como forma de interpretar e lidar com os atos e sensações do mundo externo. O seio materno, primeiro objeto de relação da criança com o mundo externo, é fundamental para construção no mundo interno. Como o seio fornece alimento e saciedade da fome, existe a construção interna da ideia de “seio bom”. Porém, quando há insatisfação do desejo no mundo interno surge a ideia de “seio mau”. Como é impossível que a criança esteja com todas as suas necessidades satisfeitas a todo momento, há uma série de construções internas de seio bom e seio mau. Esses conceitos são muito importantes no estudo da formação de símbolos e desenvolvimento intelectual.
Quando alguma necessidade do bebê não é atendida, surge o medo de aniquilamento, que é uma ansiedade por não saber se alguém cuidará dele. Por ser dependente de cuidados externos, se ninguém vier ao seu cuidado, o bebê acabará morrendo, por isso esse medo de deixar de existir quando suas necessidades não são atendidas.
É importante salientar que Melanie Klein segue os estágios de desenvolvimento psicossexual proposto por Freud. Dentro de cada fase as necessidades e medos mudam, assim como as percepções e compreensões sobre o mundo externo que serão absorvidas para o mundo interno.
Sendo assim, conforme o bebê cresce e vai desenvolvendo novas relações com o mundo externo, ele vai aprendendo a lidar melhor com o medo de aniquilação e desenvolve mecanismo mais sofisticados de defesa para trabalhar suas ansiedades.
Os bebês pequenos tem menos mecanismos para lidar com o mundo externo e vive a dicotomia amor x ódio (seio bom x seio mau), sem ares cinzentas entre os sentimentos, ou é bom ou ruim, não há meio termo. Sendo assim, o bebê tenta se defender do seio mau, sendo agressivo, violento e tentando evitá-lo como mecanismo de defesa. Com o desenvolvimento, o bebê percebe que o mesmo objeto que odeia (seio mau) é o mesmo que ama (seio bom), e desenvolve várias percepções entre o bom e o mau. Agora o bebê teme perder o seio bom, pois teme que seus ataques de ódio e voracidade o tenham danificado. Esse temor da perda do objeto bom é chamado por Klein de “ansiedade depressiva”. O conjunto de ansiedade depressiva e suas respectivas defesas do ego são chamados por Klein de “posição depressiva”.
O conceito de posições é muito importante na escola kleiniana pois o psiquismo funciona a partir delas e todos os demais desenvolvimentos são invariavelmente baseados em seu funcionamento.