O Papel da Escola no Combate ao Racismo

O racismo é herança de um passado colonial escravagista e violento e a inobservância das responsabilidades para com o povo negro no momento da abolição tornou as práticas racistas e segregadoras elementos estruturais da sociedade brasileira.

O racismo estrutural atua também pelo viés econômico e se configura como um problema com recorte de classe, já que, às elites, interessaria manter pessoas negras nos limites da pobreza e das classes mais baixas, sem atingir os círculos sociais mais abastados e com maior nível de bem-estar social.

Dessa forma a discriminação racial e social se confundem, sendo associado ao negro estigmas como pobre, “favelado”, bandido etc. Por isso, o preconceito vivido por um negro pobre é bem diferente daquele vivenciado por um negro com melhor situação financeira, gerando comportamentos e impactos diferentes nas classes sociais.

A escola, em uma proposta de formação cidadã, é um espaço fundamental para o combate ao racismo e a todos os tipos de preconceito e por isso deve realizar um trabalho constante. Porém, infelizmente, é comum que o assunto só seja abordado no dia da consciência negra e ignorado dentro das ações cotidianas do projeto escolar.

 

Como Combater o Racismo na Escola: Estratégias Eficazes para uma Educação Antirracista

O Papel Fundamental da Escola no Combate ao Racismo

 

A educação antirracista representa um dos pilares mais importantes para a construção de uma sociedade verdadeiramente igualitária. A escola tem como função trabalhar para reverter a naturalização de comportamentos racistas e preconceituosos, identificando como eles emergem historicamente e se consolidam como comportamento recorrente com o passar dos anos.

 

Reconhecendo o Racismo Estrutural no Ambiente Escolar

Um dos passos mais importantes é reconhecer o quadro racista no Brasil e não ignorá-lo em sala de aula. É preciso conhecer os contextos que se deseja alterar. A promoção de uma sociedade igualitária e sem racismo se estabelece quando as diferenças são reconhecidas e as práticas sociais e educativas são estruturadas a partir dessa percepção.
 

O racismo estrutural permeia todas as instituições sociais, incluindo o sistema educacional. Por isso, é fundamental que educadores compreendam como essas estruturas operam e desenvolvam estratégias específicas para desconstruí-las no ambiente escolar.

 

Estratégias Práticas para uma Educação Antirracista

1. Autoconhecimento e Reconhecimento de Privilégios

Para combater o racismo, é preciso reconhecer-se como sujeito nos espaços em que o racismo se constrói e propaga, respeitando os lugares de fala e reconhecendo privilégios sociais quando se é branco. Isso não significa gerar minimização do povo negro pelo sentimento de compaixão, não é ver-se como um branco privilegiado que deve ajudar os pobres negros coitadinhos. Não! Isso seria apenas mais forma de preconceito.
 

2. Promoção da Igualdade de Oportunidades

Tratar as diferenças entre negros e brancos é buscar mecanismos que igualem as oportunidades e não tratar os negros como indefesos ou incapazes. Por isso, o empoderamento da população negra é fundamental, mostrando e valorizando a beleza e a cultura, mostrando negros bem-sucedidos, não só nos lugares comuns (esportes e música), mas em várias áreas da sociedade.

3. Implementação de Práticas Pedagógicas Inclusivas

As práticas pedagógicas antirracistas devem incluir:

  • Representatividade nos materiais didáticos
  • História e cultura afro-brasileira no currículo
  • Valorização da diversidade étnico-racial
  • Combate ao bullying racial
  • Formação continuada de professores
 

Marco Legal: Lei 12.288/2010 e o Estatuto da Igualdade Racial

Na obra Sociologia da educação, o capítulo Relações étnico-raciais e diversidade no ambiente escolar destaca:

“A escola tem papel fundamental no combate ao racismo e à discriminação racial. Isso ocorre por dois motivos essenciais. Primeiro, porque a escola precisa estar apta a oferecer o espaço, os dispositivos e as adaptações necessárias para que estudantes marginalizados e discriminados tenham acesso à educação de qualidade.”

 

Obrigatoriedades Legais na Educação

Em 2010, o governo promulgou a Lei nº 12.288, que institui o Estatuto da Igualdade Racial. Entre outras ações, o dispositivo confirma a obrigatoriedade da presença na escola da história dos povos negros no Brasil e em África, identificando-a como elemento formador da estrutural social e cultural brasileira.
 

Além disso, o estatuto também prevê a obrigatoriedade desse conteúdo na formação de professores e profissionais da pedagogia, para que educadores tenham em sua formação a noção cristalizada da importância das contribuições dos povos negro.

 

Construindo uma Comunidade Escolar Antirracista

Envolvimento da Comunidade Escolar

Como você pode imaginar, isso só é possível se toda a comunidade escolar, assim como a comunidade do entorno, se educar para compreender as práticas reparatórias e inclusivas como um benefício a todo o contexto social, não apenas aos indivíduos em questão.

Responsabilidade Coletiva

Além disso, escolas e professores precisam construir e difundir a noção de igualdade social. A ideia é que, também fora do contexto escolar, a sociedade não discrimine cidadãos negros, indígenas, imigrantes e pessoas com deficiência por não serem os espelhos dos padrões normativos.

 

Benefícios da Educação Antirracista

Para os Estudantes

  • Desenvolvimento da autoestima em estudantes negros
  • Redução do preconceito em todos os estudantes
  • Preparação para a diversidade do mundo real
  • Formação de cidadãos conscientes
 

Para a Sociedade

  • Redução das desigualdades sociais
  • Promoção da justiça social
  • Fortalecimento da democracia
  • Valorização da diversidade cultural

Desafios e Superações

Principais Obstáculos

  1. Resistência à mudança por parte de alguns educadores
  2. Falta de formação específica sobre relações étnico-raciais
  3. Materiais didáticos inadequados
  4. Preconceito velado no ambiente escolar

Estratégias de Superação

  • Formação continuada obrigatória para educadores
  • Revisão dos materiais didáticos
  • Criação de políticas institucionais claras
  • Monitoramento e avaliação das práticas

Conclusão: O Futuro da Educação Antirracista

Devemos ver os cidadãos negros, indígenas, imigrantes e pessoas com deficiência como portadores de características diversas, que enriquecem o contexto cultural brasileiro. Para além, devemos encará-los com o mesmo respeito e as mesmas oportunidades que quaisquer outros cidadãos.
 
Se entendemos a escola como ferramenta essencial no processo civilizatório, a utilizamos quando queremos mostrar ou cristalizar novas leituras de contextos sociais. Por isso, utilizamos a escola para combater o racismo e promover a igualdade racial, e isso não apenas a partir de práticas e projetos pedagógicos inovadores e externos às diretrizes curriculares.
 
Desse modo, a educação antirracista não é apenas uma obrigação legal, mas uma necessidade social urgente para construirmos uma sociedade mais justa, igualitária e respeitosa com a diversidade que nos constitui como nação.

Referência: RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

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